Um bar para chamar de meu

Beber, comer e reencontrar os amigos em um bar é rotina na vida de boa parte dos belo-horizontinos. Há aqueles que se orgulham de conhecer um vasto número entre os 5.000 estabelecimentos do tipo (segundo a Abrasel/MG) que existem na cidade e, ainda, de visitarem os recém-inaugurados. Porém, para outro grupo, um boteco pode significar a extensão de casa, um lugar a que se vai menos para beber e conversar e mais para se sentir bem. Tornam-se, assim, mais que clientes habitués: viram amigos de garçons, gerentes e proprietários.

Um dos bares de Belo Horizonte cujos proprietários se orgulham de ter esse perfil é o Particular, no bairro Gutierrez. Mais que formar uma clientela fiel, o casal Luigi Russo e Adriana Lutterbach conquistou amigos entre os frequentadores. A relação de proximidade é tamanha que eles têm o hábito de enviar e-mails carinhosos para os chamados "particulares", contendo sugestões de músicas e vídeos personalizados.

O casal Élcio Paraíso, fotógrafo, e Liliane Pelegrini, jornalista, fazem parte desse grupo. E pensar que eles começaram a visitar o Particular por causa de uma matéria gastronômica que Liliane fez para O TEMPO, em 2007 - a reportagem está fixada em uma das paredes do bar. "A Lili ficou melhor amiga do Luigi no dia em que conversou com ele, por telefone. Na mesma noite, fomos até lá e, rapidamente, ficamos amigos dos dois. Antes, íamos até quatro vezes por semana. Agora, diminuímos, mas quando chega sexta-feira e ainda não fomos, é hora de se arrumar", conta Élcio, que revela que o boteco não está localizado próximo à casa dos dois, que vivem no Bonfim.


Ele também recorda que nem mesmo o fato de o casal ficar sem beber durante quase todo o ano de 2009 impediu que a assiduidade continuasse. "Chegávamos para sentar no balcão, tomar suco e Coca-Cola e bater papo. Geralmente, o Luigi servia suco de uva na taça de vinho tinto e dizia que era para não pegar mal". A amizade espontânea logo extrapolou as fronteiras do estabelecimento e gerou homenagens ao fotógrafo. "Nós sempre preparamos jantares para eles e também vamos à casa dos dois. Em uma versão mais antiga do cardápio, chegou a ter um prato com meu nome, o ‘Paradiso’, uma releitura de uma carne de panela com cebola e gengibre que eu servi", explica. Foi nesse limite de amizade/cliente que a fronteira entre o Particular e a casa de Élcio também se estreitou. "Hoje, o Particular é extensão da minha casa, tenho liberdade completa, até de falar do que não gosto", revela.

A relações públicas Carla Siqueira também se sente à vontade em um mesmo bar, há cinco anos. Foi nessa época que ela conheceu o Balaio de Gato, na avenida Olegário Maciel, e fez de lá seu porto seguro. "No início, os meus amigos de Arcos iam para lá todo fim de semana, foi por isso que comecei a frequentar. Era uma turma grande de 20 pessoas, e tudo era lá, inclusive a comemoração de todos os aniversários. Depois, comecei a levar meu irmão e meus pais. Engraçado porque, agora, quando não vou com a minha família, os garçons sempre mandam recado, perguntam como eles estão", conta ela, que atualmente vai ao local com poucos amigos, de turmas diferentes.

Mesmo variando as companhias, o pedido de Carla é sempre o mesmo: caipirinha e batata frita. "Em 2010, fiquei um tempo sem ir e, quando voltei, havia alguns garçons novos. Daí um deles, que eu nunca tinha visto, virou pra mim e falou: ‘é caipirinha?’. Até hoje eu não entendi como ele sabia", conta rindo.

O relacionamento da jovem com os funcionários é tão estreito que há uma preocupação constante com o seu bem-estar. "Um dia, o Betinho (um dos garçons) virou para mim e falou: 'Carla, não vou mais servir caipirinha para você porque o fulano, que sempre te dá carona, não está na turma hoje".

Assim, ela revela que o atendimento foi o grande diferencial para a escolha pelo bar, mas não é o único motivo. "O fato de morar perto influenciou, mas é principalmente porque eu sei, e todos os meus amigos também, que a qualquer hora eu consigo mesa e serei bem recebida. É por isso que lá é sempre minha primeira opção", diz.